Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Sandro Macedo

A maldição do centroavante gato

Com dois bonitões no ataque, Corinthians ainda não marcou no Brasileiro

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Torcedor é um sujeito muito exigente, quer que o time jogue bonito e tenha resultado. Não é fácil, nem quando Belo faz show na véspera.

Flamengo e Palmeiras, ou Palmeiras e Flamengo, provaram a tese no domingo (21). Foi um, mais um, jogo horroroso entre os times mais badalados do Brasil, o bilionário e o milionário bicampeão.

A desculpa da Libertadores no meio da semana, usada em entrevistas coletivas, não cola. Até porque seria mais fácil poupar no continental e tentar vencer no nacional, que é mais difícil. Mas, como ensina a famosa frase atribuída a um filósofo luxemburguês, "o medo de perder tira a vontade de ganhar".

No entanto, a grande decepção na fórmula "futebol + beleza = resultado" neste início de Brasileiro tem sido o Corinthians, time do ataque mais gato do país —e o único que não fez gols após três jogos disputados.

No começo do ano, o alvinegro já tinha seu homem-gol-não-gol, Yuri Alberto, atleta gato, de sorriso carismático e um belo penteado, com luzes, me parece, e faro de gol meio entupido.

O atacante do Corinthians Yuri Alberto - Dante Fernandez/AFP

Eis que, não contente apenas com Yuri, a presidência de Augustus Melos, o homem sem plural, anunciou um novo centroavante, Pedro Raul, centroavante que já tinha brigado com o gol no ano anterior, quando foi destaque do álbum da Panini e vendido rapidamente pelo Vasco. O cruz-maltino arrumou para o lugar um artilheiro argentino, Pablo Vegetti, não gato, mas eficiente.

Pedro Raul em jogo do Vasco, em 2023 - Sérgio Moraes/Reuters

Foi quando um amigo corintiano de nobre casta me falou, em tom melancólico: "Pelo amor de Deus, o cara é muito bonito. Centroavante não pode ser bonito, e temos dois".

Lembramos de Haaland, do Manchester City, o centroavante mais eficiente do mundo, loiro, alto, de olhos azuis, viking, mas cujo rosto parece desenhado por um pintor cubista.

Este escriba ainda tentou argumentar que outros atacantes gatos já haviam passado por gramados mundiais com sucesso, como Henry, Kane, Fred, Cris Ronaldo, Paulinho, Giroud, Van Basten, Túlio (?).

Para todos, ele tinha um contra-argumento. Sobre Kane, "faz gol, mas não ganha nada"; Giroud? "Mas não fez gol na Copa que foi campeão, e quando fez, perdeu o Mundial"; CR7? "Fez a carreira toda sem ser centroavante, só mudou nos últimos anos"; Van Basten? "Esse era tão bonito e bom que os deuses do futebol perceberam e encerraram a carreira dele cedo".

Erling Braut Haaland em jogo do Machester City - Andrew Boyers/Action Images via Reuters

Não tinha jeito, ele sempre encontrava um jeito de refutar a beleza ou a eficiência de todo centroavante gato citado (ou apelava para tática, "esse não é centroavante, é atacante de lado"). Em última instância, dizia que, tudo bem, o time X tinha um centroavante gato, mas dois? "Dois, só o Corinthians, e isso não tem como dar certo", profetizou o nobre amigo.

E olha que Pedro Raul ainda fez harmonização facial antes do início do campeonato (gatos podem ficar mais gatos).

O míster António Oliveira tem evitado escalar os dois gatos ao mesmo tempo, brigando pelo mesmo pires de leite. Contra o Atlético-MG, Yuri foi titular, Pedro entrou no fim. Diante do Juventude, Pedro entrou faltando mais de 30 minutos, porém no lugar de Yuri (a alteração foi um momento mágico, meio "Feitiço de Áquila"). Diante do Bragantino, Pedro foi titular, mas no lugar de Yuri, que entrou aos 24 minutos do segundo tempo —foi o maior período com os dois juntos em campo no Brasileiro.

Teorias conspiratórias apontam ainda que a contratação de Pedro Raul foi um pedido direto de seu Panini, que estuda dar uma página a mais do álbum para o Corinthians em relação aos outros times. Exagero?

Round 3 de 38
Antes do início do Round 3 do Brasileiro, a diretoria são-paulina fez o que todo mundo sabia (menos a vítima) e cortou a cabeça do professor Thiago Carpini. Entrou no lugar o argentino fala mansa Luis Zubeldía. Restam 18 sobreviventes (isso tudo?) desde a rodada 1: dez brasileiros e oito estrangeiros.

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